Through the Looking-Glass (Mei)

Spoiler:

Já era de noite, Mei estava cansado após todo o turno de aulas, treinos e tudo mais o que o seu pai mandava ela fazer para que ela se tornasse uma "grande mulher". Agora ela estava diante das janelas da casa. Um apartamento alto e luxuoso onde ela morava, longe da cidade em movimento lá em baixo. E muitas vezes aquele era o único movimento que ela via, tão longe, e sempre de cima. Mas dessa vez havia mais coisas na cidade, o céu estava entregando um pouco de chuva para se mesclar com a poluição característica do lugar. Principalmente nos arredores da indústria de seu pai.

Ela tinha tudo o que precisava ali. Haviam serventes para lhe darem comida, roupas, descanso, banho, diversão e tudo mais. Só não havia ninguém para ouví-la ou compartilhar seus sonhos, mesmo seu pai já não estava mais despertanto tanto a confiança da garota. Ultimamente ela andava tendo algumas dores de cabeça constantes. Ainda bem que chovia, o som era reconfortante...

- Você já decidiu o que quer de presente de aniversário?

Ela percebeu que não estava mais sozinha na sala. Seu pai estava lá, atrás dela a uma certa distância. Seu aniversário estava chegando, e ele costumava compar tudo o que ela pedisse. A uma certa distância ele havia perguntado. E era isso o que ela sentia em relação ao seu pai naquela hora.

Os pensamentos recentes de Mei a incomodavam... se sentia sozinha com a distância do pai. Sua casa não era mais tão confortável e olhar através da janela parecia uma atitude típica de angústia por alguém que talvez desejasse liberdade. Por noites levantou e repetiu o mesmo gesto. Seu irmão, afinal, prometeu que um dia voltaria. Mas talvez tenha a esquecido.

A voz do Sr. Ebihara invadiu o quarto, dissipando o momento relaxante que o som da chuva lhe proporcionava. Ela massageou as têmporas, discretamente, e se virou apenas de perfil, respondendo-o sem emoção:

-Nada que o seu dinheiro possa comprar, pai.

Suas palavras parecem ter escapado, descontroladas. Ela se dá conta do que disse e se volta à ele, tentando consertar...
talvez, em seu íntimo, tenha desejado dizer isto de propósito... para chamar-lhe atenção:

-...bem, você faria qualquer coisa para me ver feliz, não é?

O pai se aproxima desajeitadamente da filha. A primeira resposta lhe causou certo constrangimento. Ele percebeu que a filha estava se distanciando dele, e ele deixava claro que não queria isso. Talvez nem Mei quisesse... O pai sabia como acalmá-la, como remover suas dores de cabeça. O pai dizia que ele havia encomendado diretamente a pesquisa de um remédio para as dores de cabeça dela. Mesmo assim havia a distância, e a saudade... O pai coloca delicadamente as mãos sobre seus ombros de Mei.

- Pode me dizer... O que você quer?

Mei não tirou os olhos esperançosos do pai durante todo o percurso, até a mão sobre seu ombro. Parece tomar coragem e fôlego para que respondesse, com receio do que ouviria logo após.

-Eu quero ir para um colégio público. Vou fazer 16 anos e não sou mais uma criança.
Quero ver este mundo, que me privaram de ver a vida toda.

O pai se espanta. Para ele aquilo não era um pedido razoável...

- Minha filha... Você já possui as melhores aulas aqui, não há necessidade disso... E o que você quer ver no mundo? Não sobrou nada para ver no mundo...

Ela percebe que o pai cortou sua frase no meio, e após isso ele retira a mão do ombro dela.

- Já pensou na lista de convidados?

-Não sobrou nada? É claro que sobrou... Existem pessoas lá fora, existem coisas acontecendo e eu quero estar perto disto. Um dia o senhor não vai mais estar aqui... o que adianta toda essa proteção se eu não saberei nunca do que estou me defendendo.

Ela suspira, abaixando a cabeça ligeiramente.

-Pai, eu não quero festa ou presentes. Quero um pouco mais de liberdade...
quero que o senhor mostre que confie em mim, como confio em você.

Dito isto, Mei fita os olhos do pai, sorrateiramente.

- Ah... Eu não conigo entender porque... O que você pode aprender lá fora que seja útil, ou digno?... Tudo bem... Se você quer, você vai... Irá por uma semana para ver como é. Se algum problema acontecer, você volta para as aulas particulares. Feito?

- E então, quando quer começar?

Uma vitória para Mei. O pai não quis deixar evidente, mas ela havia ganhado aquela batalha.

Mei se surpreende com a oportunidade concedida. Sem pensar duas vezes corre para o colo do pai, abraçando-o forte. Parecia que naquele abraço, a distância de semanas havia desaparecido instantâneamente.

-Feito! feito! obrigada! Quero começar o mais rápido possível, papai... e depois, no meu aniversário, nada de festas...
quero passar só com você!! e com bolo de chocolate! - diz, sorrindo.

O pai fica até sem jeito. Ele havia se sentido realizado. Ele beija sua filha na testa carinhosamente e abraça.

- Tudo bem, tudo bem. Só te ver feliz já me basta, se quiser pode começar amanhã. A Escola de Preparação Profissional do 8° distrito não fica longe. Mas continuo muito preocupado com essa sua ida à escola, é muito perigoso...

Mei permanece no colo do pai, inquieta, ainda empolgada com a resposta dele. Seus olhos brilhavam enquanto o fitava, provavelmente
inspirando-o confiança... talvez um "presente" nunca a tenha feito tão feliz... Em seu íntimo, Mei pensava na possibilidade de encontrar o irmão nas ruas.

-Pai, existem outros como eu lá... estão vivos e bem, não estão? Se tem tanto medo quanto à minha segurança, eu poderia me matricular com outra identidade. Além do mais, temos seguranças que poderiam me acompanhar até lá sem que os outros percebam o que eles são. O que acha?

O pai continuava inseguro diante daquilo.

- Sim, de maneira alguma você seria matriculada com seu nome real; e os seguranças... Bem, não sei se daria certo, mas definitivamente eles serão necessários. E filha... Não faça tantas suposições sobre a cidade, em breve você verá que eu estava certo...

O pai percebe que havia dito algo indevido, e tenta logo remendar o assunto:

- Ah! Filha, pelos seus estudos você estaria indicada para entrar no segundo ano, mas acho você muito jovem para ficar em uma sala do segundo ano. Em qual série você quer se matricular?

Mei observa as reações do pai, sem parecer tão atenta. Apesar disto, não se esqueceria de comentários como aquele
que ele havia acabado de proferir. Sorrindo, ela diz:

-Então no primeiro? Para mim tanto faz.

- Ok! Será primeiro ano então, vou lá arrumar as coisas para sua matrícula...

O pai retira delicadamente a filha de seu colo e se retira da sala sem mais nada dizer, caminhando em direção ao escritório. Mais uma vez Mei estava a sós com a chuva, a cidade e a janela...

Mei se esforça para não ser notada e segue o pai tão logo ele se distrai de sua presença. Sua intenção era ouvir
a conversa atrás da porta do escritório.

OFF: Teste - Destreza+Dissimulação
Zao-Lat efetuou 3 lançamento(s) de dados d10 :

9 , 5 , 9

Mei conseguiu seguir seu pai de uma forma que ela praticamente poderia entrar na sala sem ele perceber. O pai entra dentro do escritório e tranca a porta, algo que não era o costume de seu pai, mas que também não era tão incomum. Ela ouve o pai falar no telefone sobre fazer matrículas, primeiro ano, aluna Keiko Amamiya, dedicada, ele pede algumas informações sobre o currículo da escola. Alguns "sins", outros "ahans", e por fim um "Muito Obrigado", e um telefone desligado. Parecia que sua matrícula estava feita. Talvez não houvesse mais nada para ouvir, ou não.

Mei gostaria de ficar um pouco mais, talvez ouvir um pouco mais... os negócios do seu pai a interessavam... ao menos aqueles que ele fazia a portas fechadas. Mas ela não podia perder a sua confiança agora... não após a sua primeira conquista real.

A garota volta ao quarto e escolhe as melhores peças. Afinal, no colégio, usaria uniforme e passaria por uma aluna comum.

OFF: Desculpe a demora...devia ter avisado que viajei e que fiquei sem o pc por alguns dias. Agora não sumo mais...

Mei dedica grande confiança ao seu pai. Não iria espioná-lo. Ela volta para seu quarto e começou a escolher as roupas. Talvez fosse melhor não ir exatamente com as melhores peças, para não chamar atenção na escola. Ela sente sono, já havia passado da hora de ir dormir, e a dor de cabeça ainda não havia passado.

Se rendendo ao pedido do seu corpo, Mei se limita a tomar um banho e dormir, procurando ignorar a ansiedade que tomava
conta, diante da grande expectativa.

Mei acorda para um novo dia, com a ajuda do despertador. E seria um dia completamente diferente. Seria seu primeiro dia na escola. Uma servente logo chega para ajudá-la a se levantar, arrumar sua cama e roupas, enquanto ela se preparava para tomar café. Ela se surpreende ao ver seu pai sentado na mesa lendo jornal. Era a primira vez que ela o encontrava de manhã em muitos anos.

- Tome seu café, que eu irei levá-la para a escola.

Ela fica estupefata. Fazia tanto tempo que ela não via aquilo, que até achava que ainda estava dormindo.