Ignorância é Força

Uma paz verdadeiramente permanente seria o mesmo que a guerra permanente

- Emmanuel Goldstein

Neo-Tokio, 15:03 a.m.

Haru e Kaguya estavam caminhando nas ruas da cidade depois das aulas terem terminado mais cedo. Elas aproveitaram para passar numa loja de música antiga. Atualmente, depois da guerra, existiam poucas bandas. Nada de novo aquele dia, apenas um imenso outdoor na rua. Kaguya para para olhar, e aponta para Haru. Ela olha, e não era um simples outdoor, era uma tela de alta definição. Não, a definição era alta demais, parecia que ela estava dentro do filme. Aquilo dominava sua atenção...

[VÍDEO]

Ela então percebe que o homem foi embora, e ela havia ficado sozinha no planeta, um planeta predominantemente rochoso. Só havia um esqueleto ao seu lado, estava perdida naquele lugar. Ela sente então seus pés afundarem, parecia que o chão estava se desfazendo. Ela corre para escapar, tenta pular para terra firme...
...
Neo-Tokio, 11:04 a.m.
E chuta com força a perna da mesa da escola. Parecia que ela tinha dormido um dia inteiro. Ninguém a havia acordado... Estranho, não tinha ninguém dando aula, poucos alunos na sala. O que será que estava acontecendo?

- Hmmmmm... - Atravessando a sala vazia, o resmungo de Haru parecia o rosnado de um pequeno cão. Ela apertou a têmpora com os dedos, enquanto se levantava e olhava em volta sem nenhuma simpatia. Estava de mau humor.

Ao constatar isso, imediatamente soube a razão: estava na escola. A situação não lhe causou estranhamento. Provavelmente havia estado em algum tipo de castigo (de novo), a única coisa que fazia nas raras vezes em que marcava presença. "Nem sei porque ainda perco meu tempo aqui." Pensava isso enquanto se dirigia para a porta da sala, como que automaticamente, sem olhar para os lados ou esboçar nenhuma reação. Abriu a porta violentamente, numa espécie de desafio, e ganhou o corredor.

Agora que podia andar com seus passos lentos, mas resolutos, lembrava-se da sensação de imobilidade e solidão que teve no sonho. Sentiu a barriga gelar brevemente, mas a expressão séria não a traiu. E aquela pequena encenação... uma história que lhe parecia familiar, mas certamente também não era nada que merecesse muita atenção.

"Droga, é por isso que eu digo ao Shinji que aqueles bagulhos não prestam..." - Haru prezava de modo feroz sua sanidade, embora vez ou outra acompanhasse a turma com suas drogas baratas. E, atribuindo os devaneios a isso, deixou-os em paz e vice-versa. "Tanto faz."

Havia apenas uma coisa que realmente a incomodava naquele sonho. Kaguya já não podia vadiar com ela pela rua. Kaguya estava morta.

- Droga. - um movimento de Haru com a perna e a lata de lixo rolava no chão.

Haru acha estranho ver o corredor muito mais escuro do que o normal ao abrir a porta violentamente. Ela caminha nele decidida, até que encontra uma pessoa brilhando com uma luz na sua frente. A pessoa começa a se virar para ela, com fagulhas elétricas brotando de seu corpo como se ela estivesse tomando um choque dos grandes. E era ela mesma, gritando e tremendo.

- AKIIIIIIIRA!

Haru tenta fugir para a rua, chutando tudo o que estava em seu caminho...

Neo-Tokio, 12:04 a.m.
... Principalmente a cadeira da frente na sala de aula. Shino, líder da gangue da sala, se levanta irado e olha para Haru, mas logo se acalma pois percebe que ela também estava dormindo, só que ela parecia ter tido um pesadelo, ele então senta-se novamente.

Spoiler:

Haru ouve uma voz velha pigarrear e continuar seu discurso:

- Então senhores, devido a nova gripe que está se espalhando pela cidade, alguns homens do governo estão aqui para fazer exames de rotina e passar os medicamentos, por favor, façam fila na saída e saiam ordenadamente.

Era o diretor da escola. E ela ainda estava na escola depois de tudo aquilo, parecia que ela havia sido pega num loop temporal, e aquilo parecia real demais, ela sentia fortemente que aquele loop realmente havia acontecido, que aquele sonho havia sido colocado dentro da cabeça dela, e que aquela imagem dela mesma sendo eletrocutada havia sido consequência das duas coisas. E o pior: parecia que só ela tinha visto aquilo tudo... Shino inclina a cabeça para trás e vira um pouco, olhando Haru de rabo de olho. Então diz com um forte sotaque japonês:

- Bad dreams?

A garota lança um breve olhar indiferente para o diretor enquanto este dava o aviso, ao mesmo tempo em que se recompunha em sua carteira. A sensação de loop, as imagens e as lembranças haviam deixado Haru perturbada, mas ela não estava disposta a demonstrá-lo para o garoto que a interrogava no instante seguinte:

- Bad dreams?

Haru suspirou e respondeu sem rancor ou afronta, apenas com a displicência habitual:

- Que te importa?

Ela observou vagamente a classe se erguer para cumprir as instruções. Depois de alguns segundos, ajeitou a jaqueta e, de mãos nos bolsos, preguiçosamente fez o mesmo, não sem antes comentar ironicamente consigo mesma:

- Pff. Não me diga que agora eles cuidam da saúde pública... - e como não quisesse ser novamente interrogada por Shino, muito menos sobre o assunto "sonhos", acrescentou dirigindo-se a ele com o mesmo olhar enviesado que lhe havia sido lançado - E então? Alguma novidade?

Mas os pensamentos de Haru relutavam em se concentrar na conversa, relembrando o estranho devaneio. "Akira... Eu conheço esse nome...?"

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OFF: Zao-Lat, o quanto uma estudante como Haru sabe sobre Akira?

- Não cuidam... Aposto que isso é para pegar alguém. A Revy e Aya ainda não voltaram depois daquilo, e acho que tem uns outros sumidos... Sem contar que o Jack disse que tem um grupo de manifestantes ou coisa doida do tipo vindo pra cá. Eu só estou esperando as filas aumentarem pra fugir daqui...

Shino continuou sentado na cadeira, esperando com cara de tédio. Alguns outros alunos e membros da gangue continuavam ali conversando ou dormindo ou falando ao celular.


OFF: Pouco. Só por pesquisas pessoais feitas pela curiosidade, ele é mencionado como o originador da 3ª guerra mundial. Ou uma forma de se referir a crianças-cobaia. Ou como objeto de reverência de alguns cultos meio religiosos modernos. Ou como um dos cineastas mais importantes do Japão, tendo seus filmes influenciados uma grande geração de diretores do mundo todo.
OFF²: Haru conhece Revy. Ela é uma uma jovem forte da sua sala, que trabalha num bar e quase nunca foi vista sem álcool ou cigarros nas mãos.

Spoiler:

- Pra pegar...?? - Haru mal consegue conter sua agitação diante da sugestão de Shino, que a garota imediatamente toma como realidade concreta, ou ao menos plausível. Pessoas desaparecendo de uma hora para a outra, sem motivo aparente e com o dedo suspeito do governo... sim, para ela, era algo plausível, ou mais do que isso...

"Não é apenas acaso, certo? Sim, só pode ser o governo..." O que Haru sentia era quase esperança de que os desaparecimentos fossem de fato uma conspiração deles, acontecendo logo ali, na sua frente... Caso contrário, não havia contra quem se voltar, não havia como pudesse descobrir a verdade. Mas, mesmo assim, havia como? Haru pensava confusamente no que fazer, até que entendeu melhor as palavras de Shino. Então, antes que ele pudesse pensar que ela estivesse fechando os punhos na jaqueta por medo, e não por excitação, voltou-se e disse:

- Manifestantes? É isso mesmo, não é...? Vai ser uma bagunça, então. - bagunça o suficiente para que, talvez, ela pudesse escapar depois de sondar sobre o que se tratava aquela mobilização... Era no que Haru pensava quando juntou-se à fila e, sorrindo com o canto da boca, acrescentou - Bem, eu não vou perder o show...

Shino olha estranho para Haru, ele desconfiava que ela fosse sair mesmo com os homens lá. Mas depois ele dá de ombros.

- Bagunça acho que vai ser, só não tenho certeza se são manifestantes... O Jack é um cara muito estranho...

Ela vê lá na ponta da fila alguns homens bem alinhados olhando por cima os estudantes. Olhavam as mãos e braços, depois mandavam para uma sala lateral de um lado ou do outro lado do corredor. O ar ali era pesado, muita fumaça de cigarro, muito cheiro de álcool e as paredes da escola era imundas e depredadas. Nada que a surpreendesse ela, mas os sentidos delas ainda estavam confusos. Ela sentia como se o chão tremesse muito levemente em intervalos periódicos bem distintos. Talvez fosse apenas uma reverberação do loop que sua mente sofreu...

Haru observou o modo com que os alunos eram examinados, achando que certamente era uma maneira estranha para lidar com uma gripe. Por um instante se pergunta se era mesmo uma boa idéia ficar por ali, sobretudo com aquelas sensações estranhas deixando-a confusa... "Fugir é que eu não vou, agora que eles estão aqui..." Concluindo isso, voltou os olhos para a janela da sala, procurando algum sinal de baderna. Apoiava-se na carteira e tentava ficar calma, ignorando a teimosia dos seus sentidos...

- "Estranho" como...? - ela retomou o assunto com Shino, sem desviar o olhar da janela

Haru consegue sair da fila sem problemas, ainda estava longe do homens que examinavam, mas aqueles "exames" pareciam que logo iriam se tornar menos... "Passivos". Shino estava começando a se colocar em pé, junto com Masanari, um garoto bem alto e seu amigo. Shino estranha Haru ter voltado ali.

- Estranho, sabe? Daquele tipo que te dá calafrios? Parece daquelas pessoas que acreditam em conspirações e talz... Está ouvindo?

Haru começa a ouvir o som de pessoas, muitas pessoas juntas falando bem ao longe. Shino, Masanari e mais duas meninas começam a sair pela porta da sala e ir para o lado oposta da fila. Haru estava ficando quase sozinha na sala.

"Nesse caso, eu também sou uma pessoa estranha." - Haru constata em pensamento.

- Talvez ele tenha motivos pra acreditar nesse tipo de coisa... - apesar do sorriso zombeteiro, era exatamente isso o que ela estava pensando. E decidiu em seguida que precisava encontrar esse tal Jack... "Alguém que acredita em conspirações pode muito bem ser alguém que sabe algo sobre conspirações... Bem como pode ser um idiota, ou um aproveitador. Ou tudo isso.". Talvez fosse tarde para tentar escapulir, mas no instante seguinte Haru estava seguindo o pequeno bando na direção da saída da escola.

Shino dá de ombros quando ouve Haru, era possível perceber que havia algo de errado naquilo tudo, mas ele ainda não queria justificar o tal Jack. Quando o grupo começa a sair, Haru os segue. Shino percebe, mas não se importa. Ele vão em direção ao pátio interno da escola, entrando em uma porta de madeira onde deveria ser o depósito de materiais. Shino abre a porta com alguma dificuldade usando uma "chave improvisada" (parecia uma chave surrada, gravada e lixada porcamente), e então entra. Haru sente cada vez mais forte aqueles impactos periódicos, como se fossem as batidas de seu coração. Aquela era uma sala que ela não havia entrado antes, com algumas vassouras, baldes, seringas e camisinhas usadas espalhadas aleatoriamente. Shino abre uma pequena janela com as grades serradas bem no fundo da sala, e o grupo começa a sair. Shino estava ajudando todos a sair, até que só havia ele e Haru ali.

- Sua vez.

Ele diz para ela, mas um barulho muito forte de algo batendo e alguma construção sendo derrubada imunda o local. Shino fica assustado, e começa a olhar para fora.

Haru estremece com o ruído e lança um olhar por trás do ombro, alarmada.

- Não fique aí parado, Shino!

Ela olha para ele com impaciência, preparando-se para sair e ajudá-lo a fazer o mesmo. Apoiando-se na janela, a garota observa em volta para ter certeza de que seria seguro sair, coisa que pretendia fazer antes de se preocupar com a origem do barulho, e com urgência.

- Parece que tem um monte de gente correndo lá no final da rua, acho que dá pra sair...

Shino ajuda Haru a sair pela janela, no meio da calçada suja e levemente molhada. O céu estava cinza claro, brilhante, e completamente encoberto. No final da rua ela via uma grande massa humana se deslocando com certa rapidez, mas ainda parecia ordenado. Entretanto, aqueles barulhos começavam a gerar um pequeno caos, e o caos tende a se ramificar...

Haru sai e dá de cara com Inoue sentada na calçada e com as costas apoiadas na parede, ela estava com o celular na mão e filmava alguma coisa ao longe. Ela vira a câmera para Haru, mas logo desvia para a multidão e diz:

- Parece que teve um acidente de carro violento... E aquela multidão é para o quê?

Haru percebe que a última frase foi dirigida para Shino, que começava a sair também. Ele diz que não faz idéia, e que estava indo embora para o bar Harukiya, e pede uma carona para Inoue. A menina guarda o celular e se levanta. Shino estava indo na frente dela, como se já soubesse onde estava o carro. Inoue pega as chaves do carro e diz para Haru.

- Meu carro está no ali naquela viela... Você quer uma carona também?

OFF:

Spoiler:

Haru considera a carona sem muita empolgação, lançando um olhar à multidão. Estava muito mais interessada em saber o que se passava ali e, mais importante, se aquilo estava conectado de alguma forma às atividades estranhas do governo.

- Brigada, mas não estou muito a fim. - e então, antes de se dirigir para a multidão com a intenção de se misturar, encara o garoto - Escuta... onde é que se encontra esse tal de Jack?

Ela sabia que com isso confirmaria as suspeitas de Shino acerca de sua estranheza, mas ainda assim o perguntava da mesma forma que se perguntaria "onde fica a padaria mais próxima?", em tom casual e despreocupado, ainda que sempre sério e contido. Tinha mais com o que se preocupar do que causar uma boa impressão e não se importava em parecer suspeita.

Inoue fica com uma cara de "Quem?", quando Shino, que já estava mais adiantado olha para trás e, sem parar sua caminhada, diz:

- No Harukiya.

Shino parece não se importar com a pergunta de Haru, que parecia estar seguindo o caminho oposto. Inoue não estava entendendo nada e dá de ombros. Os dois chegam no automóvel vermelho, um pedaço dele visível depois da esquina.

- No Harukiya!? - Haru pára a caminhada e dá meia-volta, se apressando para acompanhar os dois. - Tsc. - ela suspira contrariada, culpando Shino em pensamento por quase ter omitido uma informação que obviamente era importante desde o início (ao menos na sua cabeça sempre apressada em se irritar com alguém).

- Ahn... Valeu aí, to aceitando a carona. - ela acena de forma mais amena para Inoue, dirigindo-se ao carro. Durante o caminho, não se importa em disfarçar os olhares curiosos que lança a Shino, de vez em quando, mas não diz nada. *O tal Jack não era um cara "estranho"? O que é que você vai fazer no pedaço dele, Shino...?*

Inoue estava sem entender nada. Ela estava achando Haru um pouco indecisa... Mas dá de ombros e começa a ir para o carro também. Era um modelo pequeno, pintado de vermelho, típico da Inoue. Os dois entram no banco da frente, com a menina dirigindo, e Haru vai no bando de trás. Inoue fica passando por vielas, escapando dos maiores problemas. Havia barulhos altos como som de fundo, mas era difícil discenir.

Depois de alguns minutos, todos chegam a uma entrada marcada B-1, com uma escadaria que descia até uma porta. Os dois entram nela.

Haru desce do carro e olha com atenção para a vizinhança, tentando reconhecê-la ou memorizá-la. Segue os dois até o lugar mas permanece parada no topo da escada, observando-os vagamente enquanto desciam as escadas. Então, se dá conta de que os dois já entraram.

- Hehe... - ela ri da sua própria hesitação. Pensou que era uma hesitação inútil, já que a garota sabia que desceria de um jeito ou de outro, ainda que não confiasse em Shino. Foi o que fez em seguida.

"Tantas idéias de conspiração estão me deixando maluca... Não. Maluca, não. Trate de ficar sã."

Haru desce depois de todos. Havia mendigos nas ruas e um deles sentado nas escadarias, ao lado das paredes pichadas. Uma porta de madeira comum levava até o ambiente interno. Um bar que parecia não ter nada de especial. Shino e Inoue estavam conversando com o barman, que entrega uma garrafa para ambos. Havia uma jovem jogando fliperama, um homem mudando as músicas na máquina, e outras pessoas sentadas nas mesas. Em especial um que estava olhando para Haru quando ela entrou.

Spoiler:

Haru tem uma familiar sensação ruim ao passar pelo mendigo na escada. "Maldito governo." Antes que pudesse evitar, imagina que outra pessoa estava sentada ali, miserável...

"Aguente firme, velho. E adeus, enfim." - ela diz em mente para a pessoa que não estava ali no lugar do mendigo, mas que podia muito bem estar, dali a algum tempo. E entra no bar, sem olhar para trás.

Dá de cara com o olhar do desconhecido, do qual não fez nada para desviar-se. Apenas serenamente encara-o de volta, muito breve, apenas o suficiente para ficar claro que ela havia percebido o olhar. Enfim, continua seu caminho até o balcão, indiferente. Cumprimenta o barman com um gesto e encosta-se ao lado de Shino e Inoue, com as costas no balcão, prestando atenção em sua conversa e olhando vagamente o movimento.

O homem volta para sua bebida e um pequeno bloco de anotações que estava sobre a mesa quando Haru demonstra ter percebido o olhar. Shino estava ocupado no celular, parecendo estar meio irritado, provavelmente tentava ligar para alguém que não atendia suas chamadas. Inoue estende para Haru uma garrafa de cerveja gelada e depois tenta jogar algo pelo celular. Mas não por muito tempo. Para quebrar o silêncio ela tenta puxar assunto com Haru.

- Você viu que disseram que o ginásio olímpico está terminando de ser construído? Será que ele fica pronto antes do shopping?

Ela completa com uma risada irônica. Haru também sabia que o shopping iria ser construído nas ruínas da 3ª guerra, e estava prometido para uma olimpíada que aconteceria a 20 anos atrás, mas ainda não estava pronto. Ela não sabia muito do shopping.

Haru recebe a cerveja das mãos da garota e agradece com um gesto da gabeça, para depois tomar um gole.
Ela retribui a risada de Inoue com um sorriso igualmente irônico, lento e malicioso.

- O ginásio? Huhu... Eles já vêm jogando seus próprios jogos por lá, há muito tempo... - ela acrescentou misteriosamente em tom audível, embora não soubesse nada sobre o assunto. Sabia apenas que boa coisa não devia ser. Simples ineficiência? Que nada. "Provavelmenete um esquema sujo para sumir com dinheiro, ou um lugar secreto para esquemas sujos de outras coisas." - concluiu em pensamento.

Tomou um novo gole da cerveja, menos porque estivesse com vontade do que para que não tivesse que dizer mais nada. A tentativa de entrosamento de Inoue a havia constrangido um pouco, pois Haru não era muito boa em engatar conversas. Além do mais, não era para isso que estava ali...

- E então, Shino? - ela aguardou que o colega pausasse suas tentativas ao celular e dirigiu-se a ele - Que é que se tem que fazer pra encontrar esse tal de Joe?

Ligeiramente inclinada na direção de Shino, ainda com os cotovelos no balcão, ela olha em volta com os cantos dos olhos, para ver se a conversa havia surtido algum efeito em alguém no bar.

Inoue fica olhando para Haru por um tempo como se não tivesse entendido o que ela estava falando, mas depois finalmente ri um pouco e volta a tomar a sua cerveja. Numa pausa de Shino, antes que ele tivesse chances de falar, Haru indaga sobre um tal "Joe". Shino responde:

- Joe? Que Joe?

(OFF: Se a sua intenção era falar "Jack", continue... )

Shino apenas aponta rapidamente para uma mesa onde aquele homem que estava olhando Haru quando ela entrou estava sentado. Ninguem fez nenhuma reação diferente com as palavras de Haru. Shino então começa a reclamar com Inoue que ele não estava conseguindo falar com ninguém.

(OFF: Ops! Era Jack!! )

ON:
A ausência de uma reação era tranquilizante e ao mesmo tempo decepcionante. Haru pensava cada vez mais que aquele tal de Jack devia ser apenas um cara "estranho" e que aquela viagem não lhe traria nada de proveitoso. Quando Shino apontou a mesa, a decepção lhe escapou pela expressão do olhar - o homem sentado ali não lhe inspirava a menor confiança ou resolução. "Esse aí é o Jack?"

Enfim, resignada, termina de beber a cerveja em goles largos e se dirige à mesa com seus passos lentos e firmes. Pára na frente do homem, aguardando que ele retribua o seu olhar (ou interpelando-o mesmo assim caso não haja reação):

- Meu nome é Haru. To procurando o Jack... É você?

O homem observa a menina de rabo de olho, e depois que ela se apresenta ele olha para ela com um sorriso.

- Sim, sou eu. Sente-se, por favor... Sobre o que gostaria de falar?

Ele aponta a cadeira vazia à sua frente para ela.