Ignorância é Força

Não demora quase nada. Em questão de segundos um homem jovem, vestido com roupas de monge na cor branca sai pelo portão da fachada da torre e vai diretamente até Haru.

- Me desculpe senhorita, mas Lady Kagame não está aqui. Gostaria de me acompanhar?

O homem começa a entrar dentro do prédio. Se Haru o acompanhar, ele pergunta:

- O que te traz aqui, minha jovem?

- Como voc-...?

Haru olha para o monge com surpresa genuína, mas desiste de levar a pergunta adiante. A naturalidade com que ele agia parecia indicar que aquilo não era um acontecimento raro ou estranho. Calculou que, naquelas circunstâncias, era melhor que fosse assim.

Então, Lady Kagame não estava. Tratava-se, porém, de uma ação coordenada. Portanto, ainda que acreditasse tomar um papel pequeno nela, Haru pretendia levar adiante o plano.

Ela o acompanha timidamente. Um observador poderia pensar que sua postura era por reverência, mas em verdade Haru tinha outras coisas em mente - as preocupações de seu dever... O que fez questão de afastar da cabeça assim que pôs os pés no templo. Concentrou-se no comando "obter informações" e tentou esquecer todo o resto, sentindo um medo paranóico de que os monges pudessem ler em sua mente mais do que o que era seguro.

Quando é interpelada pelo monge, responde, hesitante:

- Eu... faço e sinto coisas. Essas coisas... entende? Pensei que aqui poderia saber sobre elas e o que fazer com elas... - esse era o modo com que julgava ser mais fácil obter informações. Não era toda a verdade, mas também não era uma mentira. Por isso, seu retraímento era mais pelo contrangimento de falar sobre o assunto do que por culpa ou temor.

Os dois começam a entrar dentro da torre branca.

- Sim, nós percebemos suas habilidades superiores, por isso viemos te ajudar. Nós damos orientação para as crianças especiais que o governo trás para nós. Ficamos felizes que você tenha nos encontrado a tempo.

Ele continua a maior parte do caminho em silêncio, andando por corredores com decoração neutra e clara, e então pega um elevador. O destino ao qual chegam possuía uma quantidade de cores muito maior e uma decoração que lembrava o Japão medieval. Ele acaba entrando numa sala ampla, com várias crianças, quase todas mais jovens que Haru. Essas crianças usavam roupas brancas e estavam quietas ou conversando baixo. O homem senta-se numa almofada e convida Haru a se sentar num almofada a sua frente.

- Nós estávamos justamente tentando encontras Lady Kagame. Você disse que era capaz de sentir coisas, e isso pode acabar sendo de grande ajuda para nós. Mas antes vamos começar com algum treinamento. O mais simples deles...

Ele começa a explicar as instruções. Basicamente ele tem um conjunto de cartões com desenhos e ela deve adivinhar qual desenho ele está olhando naquele instante. Parecia com aquelas coisas que Haru via em filmes e coisas assim.

Haru vai muito bem no teste. O homem volta a falar com ela.

- Impressionante. Tente agora usar esse seu dom para buscar coisas fora daqui, tente buscar uma mulher com presença forte na cidade... Esta mulher.

Ele pega uma foto e dá para Haru, depois vai embora da sala.

Spoiler:

- Espera!

Haru se levanta bruscamente e segue o homem para fora da sala, ainda segurando a foto na mão. Apenas ser testada já era irritante o suficiente, sobretudo naquela sala que mais parecia um jardim de infância. Agora, o homem ainda sugeria a possibilidade de usá-la e sai sem a menor preocupação em dar explicações!

- Vocês não sabem onde está a Lady Kagame?? - a indagação sai mais alto do que ela esperava, acompanhada por um tapa com a mão espalmada na parede do corredor. - Mas ela é a guia, não é? Como vamos... fazer sem ela?

Ela abaixa a cabeça para se recompor. Aquele "vamos" não se referia aos seguidores de Lady Kagame, mas a ela e o grupo de Jack. O que a preocupava era que Lady Kagame, estando no ponto máximo da hierarquia, poderia ser o único elo efetivo entre os religiosos e o governo (elo que ela julgava comprovado pelas palavras do monge). Era a única que merecia realmente uma punição, que poderia acabar com aquilo... Sua ausência, agora, era suspeita. "Será que ela está com problemas? Foi traída pelo governo, ou está planejando algo maior...?

Foi apenas um segundo para erguer novamente a cabeça, falando com o monge com firmeza:

- Deixe-me ajudar a encontrar Lady Kagame! Mas antes, me diga... e depois? O que vão fazer comigo? E essas crianças? Por que esse treinamento?

O homem para prontramante para atender o chamado de Haru, e estranha o comportamento dela. Mas depois ele sorri, e coloca a mão no ombro dela carinhosamente.

- Calma, ela deve estar bem. Provavelmente foi até a sede do governo, ou ajudar alguém lá fora.

Ele fica feliz com o entusiasmo mostrado por ela na busca.

- Mas é claro que você pode ajudar. Depois disso você e todas essas crianças vão continuar com o treinamento. Esse dom que vocês têm é algo muito poderoso. Nós ajudamos para que vocês saibam como controlar esses poderes e utilizá-los para o bom, como defender a cidade e ajudar o novo governo.

Ele faz um sinal com a mão para que a jovem o acompanhasse para fora da sala.

- Vi que você não ficou muito confortável nesta sala, se quiser posso providenciar uma mais privada para você.

OFF: Eu dou uma adiantada nas coisas, mas se tiver algum momento em que vc queira interromper com alguma ação é só dizer "nessa hora", "a partir desse momento", etc e dizer a ação que eu continuo a partir da interrupção, ok?

A garota não olha para o monge, obsessivamente concentrada em um ponto riscado na parede. Ao toque no ombro ela reage estreitando os olhos ligeiramente, e eles brilham como se ela houvesse sido vítima de uma ofensa. Suas palavras sempre medidas pela gentileza não pareciam realmente chegar aos ouvidos da garota... E as últimas realmente não chegaram, pois ela estava rindo baixinho consigo mesma.

"Será mesmo uma lavagem cerebral? Ou, talvez, o que chamam de esperança."

"É uma 'ilusão' realmente curiosa essa, principalmente quando alcança a amplitude das massas... Mas por maior que seja, isso nunca afeta todo mundo. Ele não achou que eu fosse esse tipo de pessoa, achou? Não achou que eu ia engolir isso...?!"

Seus ombros balançavam ligeiramente e as outras pessoas na sala podiam começar a olhá-la, mas ela não dava atenção. É que o monge parecia mesmo acreditar naquelas palavras, o que lhe parecia incrivelmente cômico... E de repente não parecia mais.

Parecia o contrário: era uma brincadeira de muito mau gosto que alguém pudesse pensar de modo tão ingênuo, tão negligente, tão conformado enquanto tantos sofressem com aquela situação. Ela olhou para o monge com ódio. Uma longínqua porção de si mesma lembrava, alarmada, da missão de coletar informações... Mas essa parte já não podia conter a raiva que dominava a Haru restante.

Suas mãos tremiam e a face estava muito vermelha, de modo que, quando ela abriu a boca, tudo indicava que soltaria um grito enfurecido... Mas o que saiu foram palavras muito lentas e arrastadas, quase sussuradas, que ao invés de ferir os ouvidos feriam diretamente o coração, de tão cheias de rancor e desprezo:

- Curiosa essa situação: nós precisamos ajudar o governo, enquanto ele não faz nada por ninguém! Enquanto a cidade está um caos, fica brincando de olimpíadas, alta tecnologia e... e... ISSO AQUI!! - Haru faz um gesto amplo com o braço mostrando o cômodo, provocando fagulhas no espaço abrangido.

- Que eu saiba, essa porr* toda nunca ajudou ninguém!! Nem essas vozes estranhas... nem essas drogas... de... faíscas... - na medida em que ela falava, as fagulhas aumentavam, até que a parede em que antes estivera apoiada se enche de largas rachaduras - Nem isso aqui e muito menos esse governo inútil! Então você ainda vai ter que me convencer a ajudá-lo!!

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OFF: Por mim, não tem problema adiantar as ações!
Er... Ação não muito esperta, mas tentando manter a fidelidade: pela primeira vez a Haru age de acordo com o seu vício (ira). Mas ao menos na intenção ela pretendia danificar a parede, não machucar alguém.

O monge começa com uma expressão de surpresa, e depois de susto. Dá passos para trás e leva o braço à frente do corpo, para protegê-lo, enquanto observava a jovem soltar faíscas enfurecidas. Depois que ela fala, ele toma a inciativa. Balançava os braços enquanto falava, tentando convencê-la.

- O que você quer? As coisas não são tão fáceis assim! Você acha que não existem muitos outros problemas a serem resolvidos? A cidade havia sido destruída logo antes do atual governo assumir! Ele fizeram um grande trabalho reconstruindo a cidade e controlando as pressões internacionais! Você está fora do controle, não sabe o que está falando! Nós oferecemos ajuda aqueles que estão dentro de nossas capacidades! Afinal, o que você veio fazer aqui?!

Ele parecia querer sair, ou talvez chamar outras pessoas. Talvez estivesse apenas tomando fôlego. O fato era que o celular de Haru começou a vibrar.

- Eu não sei do que estou falando...?! - ela resmunga enquanto balança a cabeça repetidamente. Não poderia admitir essa acusação. Pensa na mãe, que tinha certeza haver sido levada pelo governo, e no pai, que definhava pela fome, fraqueza e (em sua opinião) covardia. Aquilo a perturbava sem medida, mas também lhe dava certeza absoluta - E quem é você pra afirmar isso?

Afinal, o que você veio fazer aqui?!

Haru volta a si, encarando-o um pouco confusa por uma fração de segundo... Então lembrou-se que tinha uma missão, que quase pusera a perder (ou seria já tarde demais?). Já sem demonstrar agressividade, tentava pensar rápido em uma resposta, quando seu celular vibra.

- Eu... estou confusa, monge. Mas não vou ofender ninguém. Por favor, me dê um momento para me acalmar. - dizendo isso, ela se retira para o local mais privado que pudesse encontrar, para atender o celular

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OFF: Estou de volta! Desculpem o tempo que fiquei ausente. Andei enfrentando alguns problemas pessoais e muita coisa ficou de lado, mas sei que vocês mereciam pelo menos um aviso... Não se repetirá!

O monge fica com uma cara muito estranha pra Haru, mas deixa que ela se retire. Ela atende o celular, era a voz de Jack.

- Onde você está? Já conseguiu entrar no salão principal? Encontrou algo estranho?

Antes de responder, Haru olha em volta para ter certeza de que ninguém a estava observando. Certeza mesmo, porém, ela não conseguia sentir confiando apenas nos olhos, estando num lugar cheio de gente como aquela.

- O que você quer? Ficar me ligando não ajuda em nada! - ela o censura em voz baixa, e então continua, tentando manter um tom de voz mais calmo, mas falando rápido - Lady Kagame não está aqui... e o monge não gosta de mim, ah, não mesmo. Mas vou ajudá-los a procurá-la, e então talvez eu consiga encontrar a... paz espiritual... - a garota conclui com a primeira coisa insuspeita que lhe veio à mente, sentindo-se ligeiramente tola com aquilo.

- Escute... Se não tem nada pra me dizer, vou desligar.

- Realmente aconteceram certas coisas... Inesperadas. Estou ligando apenas para lembrar você de encontrar o salão central, eles devem estar escondendo algo ali. É o salão central de meditação, só não dê muito na cara. Outra coisa: Com essas surpresas que tivemos, é capaz que tenhamos que mudar nossa abordagem subitamente. Esteja pronta.

Ele desligou o telefone.

- Obrigada, logo estarei em casa. - a garota responde prontamente para o telefone mudo, antes de desligar. Se aquilo realmente dissipasse as suspeitas de alguém, seria algo irônico (pois nunca em sua vida Haru havia dito isso de verdade).

Checou mais uma vez se estava fora da vista de todos e acessou o celular para conferir a posição do salão central e a melhor rota... Permitiu-se apenas uma olhada rápida, mas era o suficiente, uma vez que já havia o estudado no dia anterior. Guardando o celular novamente no bolso, ela toma o caminho que julgava ser o mais deserto para chegar ao salão.

O caminho era longo. Aquela torre realmente parecia um labirinto, mas Haru estava em vantagem com aquele mapa. Os corredores não estavam muito ocupados, mas de vez em quando um ou outro monge ou sacerdotiza passava correndo por ela. Depois de vários minutos ela acaba chegando nas portas do que seria o salão principal, mas as portas estavam trancadas, e ela ouvia um barulho estranho lá de dentro.

OFF: Algo mais ou menos como o começo dessa música
https://www.youtube.com/watch?v=mXjVGN4Xoi4

Quando passava por um dos religiosos, Haru os cumprimentava desajeitadamente com um aceno de cabeça.

"Parecem preocupados, correndo desse jeito... Ainda não devem ter encontrado a Lady."

A garota pára diante das portas fechadas, percebendo que algo importante parecia estar acontecendo ali dentro, talvez uma cerimônia. Aquilo pareceu-lhe confirmar seu pensamento anterior.

"Sim, devem estar tentando encontrá-la. Não há nada mais importante para eles agora, certo? Não vai ser fácil conseguir informação com essa bagunça toda..."

Chegando mais perto, Haru fecha os olhos e põe as mãos sobre a porta. Aquele gesto mais servia para lhe trazer confiança do que para trazer algum efeito positivo sobre o que estava prestes a fazer... Ou melhor, ela não sabia. Era desconcertante e esquisito.

"Eu não sei, eu não sei, eu... Ah, esqueça! Apenas faça!"

Pondo fim à sua indecisão, ela concentra-se para ver o que se passava na outra sala.

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OFF: Haru está tentando usar PES!

Haru conseguia observar o que se passava dentro da sala como se tivesse atravessado a porta, e poderia ir mais para dentro ainda se quisesse. Havia uma roda de monges no meio, separados deles alguns outros sentados em volta, tocando instrumentos. O grupo central parecia estar debruçado sobre algo. Algo que parecia se debater.

Achando tudo aquilo muito estranho, garota se concentra, tentando se aproximar para identificar quem ou o que se debatia tanto.

"Está sofrendo? Ou em transe?"

Haru consegue ir mais para o centro da roda. Os monges estavam impondo as mãos diante de uma... Pessoa deitada. Era um homem, talvez, mas ela via um líquido prateado correndo por cima dele, andando em todas as direções, como se fosse parte da pele dele, mas se movendo para várias direções do corpo.

Com a visão daquela cena, Haru se afasta instintivamente da porta. Olha apreensiva para os lados, para ter certeza de que o corredor estava vazio, enquanto disca para Jack no celular. Ela mesma havia o censurado antes por isso, mas agora era a única coisa que vinha a sua mente...

"Isso está ficando feio! Se eu demorar, até mesmo essa informação pode não chegar ao Jack."

- Há uma cerimônia em andamento no salão. - ela sussurra, sem introduções, assim que ouvisse a voz de Jack - Os monges estão em cima de um cara... um cara coberto por um líquido prateado, não sei! Não posso entrar agora!

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OFF: Eu adiantei a conversa no celular só pra agilizar, mas se for necessário, eu reescrevo!

Com os conhecimentos de ocultismo de Haru, é possível que ela saiba alguma coisa sobre o ritual em andamento ou sobre o estado da figura no meio?

Haru não fazia a menor ideia do que era aquilo. Ao falr no celular, ela ouve apenas silêncio por alguns instantes, depois Jack diz firmemente:

- Entre lá e pare isso!

- Mas isso é suicídio... - a garota murmura consigo mesma, quando já havia desligado o celular. Embora não acreditasse estar falando literalmente, sabia que depois disso seu disfarce desmoronaria de uma vez e provavelmente teria problemas... Mas desobedecer àquela ordem não havia sequer passado pela sua cabeça.

"Não sei o que o Jack está pensando, mas se isso vai ajudá-lo a fazer algo maior... Se isso for ajudar a acabar com aquele governo, tudo bem!"

Haru usa a psicocinese para empurrar as portas do salão com violência. Talvez uma distração fosse o suficiente para desviar a atenção dos monges e atrapalhar a cerimônia, e ela não tivesse que se confrontar com ninguém... Depois disso - bem, depois disso não importava! Ela entra no salão, gritando a plenos pulmões (e ignorando a parte de si que estava extremamente envergonhada com aquela cena):

- Parem! Parem com isso!!

"Que coisa mais dramática... Bem que a Vivian queria uma coisa discreta."

Jack havia falado com seriedade. Se sua seriedade implicava o suicídio dela, era algo que ela iria descobrir agora... Ela dá uma pancada nas portas que fazem ambas serem arremessadas para dentro do salão. A música pára, todos olham para ela assustados. Silêncio. Um grito.

- O que você está fazendo aqui, menina?

O memento de distração fora suficiente para permitir que aquela coisa prateada entrasse dentro daquele corpo, que se levanta e arremessa com um golpe um dos monges que estava ao seu redor. A voz dele parecia não sair dele, e parecia não ser japonês, mas Haru entendia.

- Minha vez de tentar...