Ignorância é Força

Contrariada, Haru cora ligeiramente quando percebe todas as atenções voltadas para si. Não esperava ser chamada ali para dar opiniões, tudo já deveria estar certo!

- Querem saber o que eu acho...?!

- Não me importo em explodir nada, mas ainda tem duas questões: um, espero que não estejam planejando visar vidas inocentes. As pessoas que frequentam o culto são soldados, militantes ou meramente massas manipuladas pelo governo? No último caso, não há proveito nenhum em matança, pelo menos fora da cúpula. Ainda são civis e, se não for pelo bem dos civis, não tem sentido nenhum em combater o governo. Até agora, nada a não ser a palavra de vocês me garante que esse culto está comprometido com o governo, quer dizer, que realmente trabalha para ele.

- E dois: vocês estão muito empolgados com um ataque aberto, portanto, espero que estejam prontos para suas conseqüências. Pirotecnia é muito bom e tudo mais, mas pode muito bem fortalecer o culto (vocês sabem, o drama). E se ele é realmente tão importante para o governo, é bom que estejam prontos para uma reação. É o seu clubinho, não posso me responsabilizar por todo ele!

- Mas saibam que, seja o que for, não me colocarei no caminho de vocês. Apenas ficaria mais satisfeita em envolver menos pessoas, tanto do lado deles quanto do... nosso. -

Vivian ri um pouco com as coisas que Haru diz.

- Jamais querida. Não planejamos sair explodindo inocentes por aí. E veja, nós não estávamos parados esperando alguma pessoa como você surgisse do nada para ajudar. Nosso grupo não é tão pequeno assim, lutamos em várias frentes. Esse templo é algo que nós estávamos planejando fazer em conjunto com... Bem... A outra... - Ela fala baixinho a última parte, como se estivesse tentando fazer a jovem em seu colo não ouví-la - Mas agora que você está aqui, este plano é algo que depend muito mais de você, e claro que gostaríamos de que você mesma dissesse o que acha melhor. Nós não vamos ficar controlando você...

- Principalmente quando todos estamos envolvidos em outras coisas. E não se preucupe com showzinhos, nós conseguimos dar conta... - O homem de óculos era muito menos gentil que Vivian.

- Bem... Veja, você vai participar disso. É bom que você já esteja dizendo o que pensa. Acho que precisamos apenas lhe contar mais detalhes sobre o templo e o que há lá. Jack?

Vivian olha para Jack e ele concente, ele então se vira para Haru e pede para ele acompanhá-la.

Haru escuta com atenção e, por fim, responde de modo prático:

- Certo.

E como ainda estivesse perturbada pelo fato da garota de cabelos negros continuar na mesma atitude, lança um breve olhar a ela. "O que ela está fazendo aqui, se é assim tão frágil?" - Haru pensa enquanto tenta evitar uma onda de simpatia. Ao sair acompanhando Jack, fala sem se dirigir especificamente a ninguém:

- O que aconteceu... é lament- digo!, eu lamento por isso. Não vai acontecer de novo.

- Sim, concordo com você.

Jack responde de maneira não específica, enquanto continuava andando. Depois de descer algumas escadas, ele volta a falar.

- Foi Shikaku quem encontrou aquela outra paranormal. Ela ficou um bom tempo tentando convencer a menina a juntar-se a nós, fazia de tudo pra ganhar a confiança dela. Quando a menina de uma hora pra outra nos traiu, aquilo foi como uma facada nas costas pra ela. Não que ela seja fraca.

Ele estava abrindo uma porta de ferro quando terminou de falar. Era uma sala que parecia um centro de processamento de dados com alguns servidores, e um sistema de arquivos. Ele vai até um desses arquivos e retira um tubo branco de dentro, estendendo sobre a mesa um blueprint do tamanho que ocupou toda a sua extensão.

- Bem, este é o templo. Ou o que sabemos dele. Nós sabemos que nele existem informações sobre a verdadeira sede do governo. O prolema é que não sabemos ao certo onde essas informações estão, ou como estão armazenadas. Sabemos que estão nos últimos andares, mas não qual deles em específico.

Jack dá mais algumas explicações sobre o lugar, suas entradas, escadas, passagens, corredores, etc. Aquele lugar parecia bastante complicado por dentro.

Haru acompanha as explicações de Jack séria e compenetrada, interferindo apenas com uma ou outra pergunta objetiva para compreender melhor. Quando ele menciona a sede, porém, não pode deixar de interromper, sem tirar os olhos do papel:

- "A verdadeira sede do governo", você diz... onde fazem as "pesquisas" com paranormais? - ela comenta rapidamente e, embora se pudesse ver que considerava aquela confirmação importante pelo brilho diferente nos olhos, permite que ele continue independente de sua resposta.

Ela se esforça para memorizar todos os detalhes e pensar na melhor forma de fazê-lo rápida e eficientemente. Quando Jack termina de falar, apesar de toda a complicação, ela não dá nenhum sinal de desânimo - pelo contrário, apenas assente com a cabeça:

- Certo.

- Mandaram alguém para observar o templo e descobrir que tipo de segurança eles mantêm? E quem irá conosco?

- Sim, basicamente o lugar de onde eles controlam tudo. Eles conseguiram esconder ele muito bem... Por enquanto...

Ele termina de explicar o local para ela, guarda o mapa no tubo e fala.

- Se quiser posso colocar uma cópia virtual do mapa no seu celular ou alguma putra coisa do tipo. - Ele espera Haru fazer sua última pergunta - A segurança deles é simples, pelo que conseguimos colher. Apenas câmeras e alguns paranormais de vigia. Se alguém vai te acompanhar, depende se você quer companhia ou não, como deseja executar a missão... A propósito, quer levar alguma arma?

- Se alguém vai te acompanhar, depende se você quer companhia ou não, como deseja executar a missão...

- Quer dizer que você confia em mim para ir até lá sozinha...? - Haru olha de soslaio para Jack. Não estava se referindo apenas à traição da outra garota, mas a uma questão de eficiência. Depois de um breve segundo analisando-o, ela desvia o olhar e põe-se a vasculhar os bolsos. - Esquece, é melhor assim.

"Quanto menos gente envolvida, melhor. Não há motivo para pôr em risco mais ninguém." ela pensa consigo mesma, enquanto entrega a Jack o celular para que ele possa colocar as plantas.

- Quanto a arma... Não pretendo usá-la, mas pode ser útil. Algo discreto, por favor.

- Só me diga quando. Se houver tempo para comida e umas horas de sono, posso fazer hoje mesmo.

- Quer dizer que você confia em mim para ir até lá sozinha...?

Jack dá um sorriso sedutor.

- Acredite, se você for nos trair, não poderá fazer muita coisa. Não sabe tanta coisa assim sobre nós... Não que não confiemos em você... Agora sobre a arma...

Ele liga o celular em um computador portátil que havia numa mesa ao lado para carregar os mapas, e vai até um armário e o abre. Por dentro estava iluminado por uma luz clara, levemente azulada, e ela vê que haviam várias armas ali, ele pega duas pistolas 9 mm, uma com cano maior que a outra´, mas as duas era bem discretas, e alguns pentes de balas cheios.

- Isto está bom para você? Quer um coldre também?

- Planejávamos fazer isso amanhã. Se quiser comer ou descansar, temos uma cozinha e quartos na casa lá em cima. Pode usá-los se desejar.

Jack dá um sorriso sedutor.
- Acredite, se você for nos trair, não poderá fazer muita coisa. Não sabe tanta coisa assim sobre nós... Não que não confiemos em você... Agora sobre a arma...

- Tem razão. - Ela concorda, discretamente desviando o olhar - Certo, a arma...

- Isso está ótimo. Vou estar pronta amanhã...

Haru pega a arma de menor cano e o coldre, para depois se retirar. Planejava comer, evitando o máximo que pudesse o contato com as outras pessoas, e depois descansar. Agora que tinha um objetivo, não pretendia pensar em mais nada.

Jack a leva para um quarto pequeno, com cama, armário, escrivaninha e TV, dizendo que iria mandar alguém trazer a comida. Pouco tempo depois alguém bate na porta.

Se abrir a porta, Haru encontra uma mulher de cabelos negros, trazendo uma bandeja de comida fechada, que diz:

- Posso entrar?

Spoiler:

Haru não demora muito a abrir a porta para receber a comida. Repara com algum desconforto a aparência frágil e melancólica da garota, que parecia não ser incomum naquela organização...

- Entrar? - Haru levantava a tampa da refeição, um tanto pela fome, outro tanto pela desconfiança. Caso não aparentasse nada de anormal, ela continua - Ahn, tá...

Com o prato em mãos, Haru se dirige a escrivaninha. Examina a comida antes de comê-la, sem dizer mais nada.

Era comida comum, mas saborosa, e uma gelatina de sobremesa. Enquanto Haru examinava a comida sobre a escrivaninha, a jovem entra no quarto e fecha a porta, e depois senta-se delicadamente sobre a cama. Ela diz em baixo tom, serenamente.

- Se você encontrar a menina Sumiko, prometa que a tratará com delicadeza, por favor?

Haru pára de comer um instante, para depois voltar-se para a garota e responder:

- Ela é do governo? - encarava-a com alguma dureza, mas depois desiste de sustentar o olhar, mais constrangida do que a própria menina. Volta a comer.

- Se não for, não tem problema. Eu só vou pegar as informações e inutilizar o local, se possível... Não vou machucar ninguém. - ela acrescenta com uma leve nota de rispidez e algum ressentimento. - especialmente uma "menina". Ainda mais se for assim... igual você.

E depois de um longo período de silêncio, mais amena:

- Como ela é?

- Não! Ela não é do governo...

A moça fica mais calma com as palavra de Haru, mas não entende muito bem o que ela quis dizer com "fraca como você", ou pelo menos ela fingiu não entender...

- Ela é baixa, branquinha, cabelos curtos e um pouco claros, rosto tímido. Ela é uma estudante da sua idade... Bem, não quero mais te atrapalhar, vou deixar você descansar em paz. Boa noite.

Ela se levanta e arruma a cama na qual tinha sentado, e depois sai do quarto silenciosamente.

Ela acompanha a moça sair do quarto com o canto dos olhos.

- Ah, seu nom...! - Haru desiste de continuar ao ver que ela já fechava a porta. "Talvez seja melhor assim. Quanto menos eu souber, melhor. Contra o governo e essas pessoas, hm, como eu... talvez força de vontade não adiante para guardar segredo.

Já tinha terminado sua refeição, então larga o prato de comida. Toma as devidas precauções com as armas que tinha recebido, travando-as e deixando-as em local discreto ao seu alcance, e depois tira os sapatos para dormir.

"Essa Sumiko, será que foi ela...? Eu devia ter perguntado." - Haru suspira e afunda a cabeça no travesseiro, ansiosa para dissipar qualquer tipo de pensamento, embora em vão - "Mas por mais que isso seja imperdoável, eu já disse que não ia machucar essa tal... Sumiko... não sei por que, a descrição me parece familiar..."

Com o tempo, Haru adormece.

Quando a jovem vai embora, Haru se dá conta que era a mesma que estava chorando no colo de Vivian. Mas Haru decide dormir em paz. E sonhar...

(Sonho)

Haru acorda bem, havia dormido tranquilamente. Ela acorda e percebe que haviam alguns sons do lado de fora do quarto.

Haru se espreguiça na cama, ainda com as imagens do sonho na cabeça. Achava estranho que logo ela, que nunca teve muita imaginação, começava a ter sonhos esquisitos agora... "Pelo menos acabou bem... acho."

Em pouco tempo, ela reúne disposição e se levanta. Prestando atenção no barulho, ela abre a porta para ver o movimento e, se possível, encontrar o que comer.

Do lado de fora do corredor apenas pessoas se movimentando. Provavelmente estavam acordando também, ou se preparando para alguma coisa que iria acontecer mais tarde. Ela toma um susto quando ouve Jack batendo na porta enquanto ela espiava.

- Vai querer o que de café da manhã? Vai tomar café da manhã?

- Qualquer coisa está bom. Estou com fome... - ela responde tentando não parecer sem graça. Depois de prestar atenção no movimento, acrescenta - Está preparando alguma coisa pra hoje?

- Sim, enquanto você vai para o templo, nós iremos para outras posições importantes. Pretendemos fazer uma ação coordenada, assim será mais difícil o governo pegar algum de nós.

Ele vai embora, e alguns minutos depois aquela garota sem nome aparece com uma bandeja com pão, leite e frutas. Ela deixa a bandeja sobre a mesinha e diz.

- Jack vai levá-la em 10 minutos, ele disse para você encontra-lo na sala de reuniões.

Ela se retira do quarto.

Haru recebe a bandeja sem olhar muito para a garota, menos por aversão do que por respeito, como se pudesse quebrá-la se a olhasse demais - embora essa não fosse uma ação consciente. Ela apenas assente com a cabeça em resposta. Faz sua refeição, sem recusar nada do que havia sido trazido, não gastando nisso mais do que cinco minutos. Com todos os preparativos feitos, ela se dirige para a sala de reunião.

Haru termina de se arrumar e vai até a sala de reunião anterior. Jack estava diante da mesa central, com alguns esquemas sobre a mesma e algumas outras pessoas ao redor, algumas delas conhecidas (Vivian e companhia) e outros desconhecidos. Quando Jack a vê, ele logo termina a conversa e vai falar com ela.

- Alguma última coisa, última necessidade? Podemos ir?

A garota não cumprimenta ninguém, nem se faz notar na sala. Apenas aguarda silenciosa que Jack venha até ela, o que não demora muito. Ela balança negativamente com a cabeça, indicando que não precisava de mais nada. Fizera sua refeição e viera até ali pensando em seu ódio pelo governo e maravilhada pela possibilidade de finalmente poder fazer alguma coisa. Estava carregada da motivação necessária e isso se via em seus olhos, brilhando com resolução quase fanática. Sentia que, se perdesse tempo falando ou qualquer outra coisa, seus sentimentos iriam transbordar... Por isso, apenas respondeu com firmeza:

- Vamos.

Jack conduz haru até o lado de fora, onde o carro dele estava estacionado. Enquanto ele a conduzia, começou a explicar outros detalhes:

- Não deixarei você muito perto do templo, para não dar suspeitas. Quando chegar lá, deverá dar um jeito de chamar a atenção pacificamente, para que consiga se inflitrar lá dentro. Não sei se você já tinha algum plano, mas acho que a melhor forma é chamar a atenção com seus poderes mentais. Sabe aquele sua habilidade de "sentir coisas"? Então, tente usá-la de uma forma inversa, tentando fazer ser sentida por alguém lá dentro. Procure a presença mais forte de lá, e "se mostre" para ela, enquanto espera na fachada da torre. Eles certamente mandarão alguém te buscar e a levarão para dentro. E se alguém te perguntar por que você está lá, diga que é por que você teve um sonho, visão ou algo do tipo, mandando que você fosse lá.

Jack para o carro num rua pouco movimentada, indica o caminho a ser seguido e depois se despede:

- Boa sorte.

Provavelmente Jack nem precisaria indicar o caminho. Haru logo vê aquela imensa torre branca, parecendo um obelisco gigante de marfim com algumas janelas pequenas.

-Exibidos. - ela murmurou com desprezo enquanto caminhava na direção do edifício monumental e via sua fachada se aproximar. Parou uma dezena de metros adiante, atenta para o tipo de pessoas que podia ver ali (eram guardas, religiosos, civis?)

"Procurar a pessoa mais poderosa...? " - ela ponderava sobre a sugestão de Jack. Se ela já tinha um plano? Haru sorriu ao pensar nisso. Obviamente não tinha nada elaborado em mente. Era apenas uma estudante e, por mais que sua aptidão para se envolver e (quase sempre) se livrar de encrencas fosse maior que a média, nada se comparava àquilo. "No que o Jack estava pensando quando me mandou fazer isso? ...Bem, provavelmente sequer importa para eles se eu falhar. Provavelmente tudo isso se trata de uma mera distração."

Decidida, sem nenhum ressentimento, a fazer seu papel de peão no tabuleiro, ela continuou a refletir sobre a próxima ação. A garota já pretendia mostrar meus poderes, pois não imaginava de que outro jeito conseguiria entrar, mas chamar a atenção do chefão com certeza era algo arriscado. "Até que ponto ele poderá ver através de mim...? Talvez isso ponha tudo a perder. Por outro lado, se ele for tão poderoso assim, provavelmente saberá de tudo de qualquer forma. Sim, é melhor tentar ir direto ao ponto, e menos gente será envolvida."

Concluindo isso, Haru se concentra e tenta fazer o que Jack havia dito. Tentava perceber o maior poder e concentrava-se apenas nessas palavras:

"Estou aqui... Me ajude...."